O final da segunda temporada deThe Handmaid's Tale foi muito impactante e, de certo modo, bastante frustrante. Afinal, a decisão de June (Elisabeth Moss) não foi nada fácil, como explica o criador Bruce Miller.
No episódio "The Word", June poderia escapar de Gilead, mas desiste. Ela entrega sua filha recém-nascida para Emily (Alexis Bledel) e decide continuar no país para procurar sua filha mais velha, Hannah (Jordana Blake). Além disso, parece óbvio que esse tempo não será pacífico — ainda bem.
"Eu acho que, vendo o rosto de June no final, dá para perceber que ela está pronta para a luta. Então acho que é para lá que nós vamos", comenta o criador. "June não está sendo capturada e arrastada de volta para Gilead. Ela está escolhendo voltar com a missão de dar um jeito de recuperar sua filha Hannah, mas também destruir algumas coisas por lá."
Fazer June ficar foi "frustrante", diz criador da série
No começo da temporada, June quase havia conseguido escapar, com a ajuda de Nick (Max Minghella). Mas ela acaba sendo apanhada no último momento e arrastada de volta. Agora, como frisa Bruce Miller, a situação é outra. É claro que esse segundo retorno a Gilead gerou alguma insatisfação por parte dos fãs, como ele comenta.
"Eu gosto do fato de as pessoas estarem frustradas. Eu estava frustrado. Você quer que ela tome uma decisão diferente. Eu amo que June faça coisas das quais nós discordamos, seja guiada por emoções, razão, estratégia e coisas assim, mas de um jeito diferente de nós. Então, fico feliz que as pessoas estejam incomodadas pelo que ela fez e tenham questões sobre isso; acho que essas avaliações me ajudam a ver como elas se sentem sobre isso. [...] Tudo isso foi encorajador. Parece que as conversas que os críticos e o público estão tendo nas redes sociais são as mesmas que nós tivemos na sala dos roteiristas."
Uma decisão difícil
A decisão não foi nada fácil para June. Afinal, se antes ela tinha que se preocupar com ela mesma e Hannah, agora existe outra criança em jogo. Durante toda a temporada, ela estava grávida, o que lhe garantiu certa segurança — mas isso não ia durar para sempre, obviamente.
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"Ela passou toda a temporada lamentando que teria que levar uma criança para fora e deixar a outra para trás. Então, quando ela percebeu que, se a criança não estivesse mais em sua barriga, ela poderia entregá-la para outra pessoa, isso seria uma oportunidade de voltar atrás e salvar a primeira. Até o bebê nascer, você não pode se separar. Se o bebê escapa, você também escapa. Mas quando isso deixa de ser uma verdade, ela percebe que o que a estava empurrando atrás de Hannah toda a temporada era o fato de que não conseguiria viver consigo mesma se fosse embora.
Então, essas grandes decisões aconteceram no final, e é sempre ótimo quando as pessoas ficam interessadas, frustradas e gritando com a TV, e esse tipo de coisa. Não é uma série que você pode dizer que é apreciável toda hora. Em muitos momentos, é difícil, um mundo difícil, e ela tem que tomar decisões difíceis, e isso é enfurecedor. Mas eu espero que seja enfurecedor de um jeito bom, um jeito interessante, não de um jeito meio 'que merda Bruce Miller fez comigo'.
Mas nesse momento eu acho que June, pela primeira vez, está tomando a própria decisão sobre o que fazer. Na maior parte do tempo, ela é levada, mesmo no começo da temporada. Ela é levada como uma boneca que é carregada de um lugar para o outro. Mas, agora, ela toma a primeira decisão sobre onde ir."
A arte imita a vida (de um jeito horrível)
Uma das coisas mais interessantes sobre The Handmaid's Taleé a forma como a trama se relaciona com a realidade. Por exemplo, o fato de as aias serem obrigadas a se afastar de seus filhos é bastante relacionável com a absurda política de imigração de Trump, que separa crianças de seus pais. Infelizmente, os assuntos abordados pela série são dolorosamente relevantes. Miller falou como é criar situações tão horrorosas.
"Nós somos viciados em notícias, dos roteiristas aos atores e produtores, e vivemos pensando 'Ok, como nós podemos extrapolar as situações que acontecem no nosso mundo? Se você tem uma teocracia terrível e totalitária, misógina e cruel, e a imagina continuando nessa diração?' Infelizmente, algumas dessas coisas acabam acontecendo [na vida real]. Na maior parte do tempo, você se sente triste e envergonhado de ser uma pequena parte da estrutura desse governo, só de ser um cidadão americano. Quando seu trabalho é imaginar as piores coisas que podem acontecer com alguém, e elas acabam acontecendo, você não se sente bem. Se sente horrível."
A atriz Yvonne Strahovski, que interpreta Serena Joy (que acaba de ser indicada ao Emmy de Melhor Atriz Coadjuvante), também comentou a situação. "É assustador para mim, e eu acho que ainda fico chocada com o fato de acabarmos alinhados com o que acontece na política atual. É um belo exemplo de como a arte imita a vida e do verdadeiro poder dela; como isso realmente se conecta com as pessoas e pode interferir em situações de diferentes maneiras."
Este texto foi escrito por Verenna Klein via nexperts.